Os Tipos Humanos

Os Tipos Humanos

Por Jorge Zacharias

    Desde a antiguidade a questão das diferenças individuais tem preocupado e intrigados os seres humanos. Por que as pessoas são diferentes no seu modo de agir? Esta é uma questão que se torna mais complicada, quando se coloca outra – por que algumas pessoas são semelhantes em seus comportamentos? Parece que temos a questão de diferenças e semelhanças de temperamento.

    A tendência humana de classificar as coisas que nos cercam, levaram a antiguidade a criar sistemas de classificação dos diferentes tipos humanos para, desta forma, conseguir compreender e prever os diversos padrões de comportamento. Surgiram a partir disto sistemas mágico-religiosos, que identificavam padrões de personalidade e de comportamento para as pessoas, segundo o período de nascimento. Na astrologia tradicional temos os doze signos do zodíaco, que conferirão características às pessoas nascidas sob sua influência. Outro sistema é o zodíaco chinês, que apresenta a mesma configuração de características por signo, que serão atribuídas às pessoas, por ano de nascimento, a cada ano corresponde um animal.

    Na modernidade científica, o século XIX foi intenso na busca destas classificações de personalidade. Sistemas como o de Lombroso, Kretschmer, Sheldon e Viola, dentre outros levantaram a possibilidade de se estruturar cientificamente esta questão das diferenças individuais. Em 1920 o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung desenvolveu um sistema de tipologia humana que satisfaz adequadamente a questão da classificação e as exigências da ciência moderna. Este sistema é, hoje, um dos mais utilizados em todo o mundo e tem auxiliado muitas pessoas em diversas situações da vida em que se exija autoconhecimento e desenvolvimento das potencialidades pessoais.

    O sistema de Jung apresenta três divisões básicas, o foco de atenção individual ou atitude, a maneira como a pessoa recebe informações do mundo e a maneira como processa estas informações.

    Quanto à atitude, ou foco de atenção temos a possibilidade da Extroversão ou Introversão. Na Extroversão o foco de atenção está voltado para o mundo externo, o que leva o indivíduo a atentar para as coisas que estão à sua volta, ser influenciado pelo ambiente, ter muitas e superficiais amizades, conhecer vários assuntos pela superfície, conseguir conversar com várias pessoas ao mesmo tempo e ter maior facilidade para falar do que para escrever. Os extrovertidos atiram-se de cabeça nas coisas, vivem primeiro para depois pensar sobre a vida. Na Introversão o foco de atenção está voltado para o mundo interno, o que leva o indivíduo a atentar para seus pensamentos e sentimentos, a não ser tão fortemente influenciado pelo ambiente externo, a ter poucas e profundas amizades, a ser um especialista, dedicando-se a poucos assuntos em profundidade, preferir conversar com uma pessoa de cada vez, ter maior facilidade para escrever do que para falar, hesitam em tomar decisões e preferem pensar sobre a vida antes de vivê-la. Devemos lembrar que a atitude introvertida não é uma posição patológica ou doentia, mas uma das duas possibilidades de se relacionar com a vida. A nossa cultura tende a valorizar os extrovertidos, mas a Introversão é tão natural e importante quanto a Extroversão, pois necessitamos de pessoas voltadas para o mundo das realizações externas, bem como de pessoas que refletem a realidade e elaboram transformações necessárias para a comunidade do ponto de vista interior.

    Quanto às formas de receber informações do mundo, temos a Intuição e a Sensação. A Intuição está preocupada com as possibilidades de transformação, no futuro das coisas, procedimentos e relações. As pessoas do tipo Intuição geralmente são mais teóricas do que práticas, veem o todo e não as partes, não percebem detalhes, nunca estão presentes no aqui agora, sempre esperam uma nova possibilidade, não possuem um bom controle do corpo, pois vivem como se este não existisse. No entanto são os idealistas, os planejadores, os profetas. Por outro lado, a Sensação está preocupada com o concreto e real no presente. As pessoas do tipo Sensação geralmente são mais objetivas, atêm-se à prática e não à teoria, não percebem o todo, mas as partes estão presentes no aqui agora, trabalham com o que é dado no momento, são excelentes realizadores ou para manter coisas e procedimentos funcionando, estão muito atentas aos cinco sentidos e baseiam-se neles para certificas sua existência.

    A tomada de decisão envolve duas formas de cognição, o estilo Pensamento ou Sentimento. As pessoas tipo Pensamento são aquelas que tomam decisões a partir de uma lei geral que compreendem como lógica e racional. Aparentam certa frieza no julgamento, pois não levam em conta as pessoas e seus valores pessoais, mas sim os fatos, regras e procedimentos. Analisam de forma lógica e impessoal todas as decisões e suas consequências. No trabalho é mais importante a tarefa a ser realizada do que as pessoas que a realizam. Por outro lado, as pessoas tipo Sentimento são pessoais, ou seja, tomam decisões com base nos seus valores próprios, independentemente de uma norma geral de
conduta. Muitas vezes podem ser ilógicas, mas preferem satisfazer sua avaliação pessoal a uma lei geral. No trabalho é mais importante quem está trabalhando do que o trabalho a ser feito. As pessoas tipo Sentimento têm mais facilidade para lidar com as relações interpessoais do que as do tipo Pensamento. Não devemos confundir sentimento com emoção, pois o sentimento também é uma forma de cognição, porém parte de referências pessoais e não normas gerais, a emoção envolve mudanças físicas, e todos estamos sujeitos a elas, independente de nossa tipologia.

    O sistema de Jung pressupõe 16 tipos de personalidade. Esta tipologia tem muitas aplicações práticas: na área de aconselhamento psicológico auxilia o relacionamento de casais, família e a compreensão pessoal de potencialidades e dificuldades. No campo das organizações, auxilia processos seletivos, a criação de bancos de talentos, recolocação de funcionários, análise de funções, formação de grupos de trabalho e resolução de conflitos. Em educação a tipologia facilita a criação de estratégias de ensino-aprendizagem, avaliações adequadas, orientação vocacional e profissional.

     Muitos estudos têm sido desenvolvidos neste sentido, na USP, Mackenzie e UNIMESP. Um dos primeiros estudos da aplicação da tipologia junguiana foi realizado uma dissertação na área de educação, deste autor, apresentada na USP em 1989.

     Por conta desta pesquisa e o posterior doutorado, foi desenvolvido o Questionário de Avaliação Tipológica – QUATI (Vetor, 1995). Este inventário de avaliação tipológica foi o primeiro a ser desenvolvido no Brasil, adaptado a nossa realidade cultural e reconhecido pelo Conselho Federal de Psicologia por estudos de validade e precisão. Atualmente é muito utilizado em empresas, escolas e consultórios para o desenvolvimento de gestão de pessoas, orientação profissional e de carreira, coaching, seleção e adequação profissional, aconselhamento psicológico e aplicações educacionais.

     Deste instrumento original desdobrou-se o Diagnóstico Tipológico Organizacional – DTO, exercício organizacional para compreensão do padrão tipológico das atividades organizacionais e fornecer uma interface entre a análise de função administrativa e o perfil individual do colaborador. Não há a possibilidade de compreendermos a nós mesmo sem percebermos que temos diferenças e semelhanças, isto faz parte da vida humana, somos ao mesmo tempo seres individuais e coletivos e esta é a beleza da existência humana! ZACHARIAS, J. J. M. Tipos, a diversidade humana, São Paulo, Vetor, 2006
______________ QUATI – Manual, São Paulo, Vetor, 1995, 1998, 2005.

JORGE ZACHARIAS

Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia pela USP, especialista em Psicoterapia Junguiana e Analista Didata. Atuou como docente em várias universidades e é autor de técnicas psicológicas e nove livros. Seus estudos focam em tipologia junguiana, psicologia analítica e religiosidade.

Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia pela USP, especialista em Psicoterapia Junguiana e Analista Didata. Atuou como docente em várias universidades e é autor de técnicas psicológicas e nove livros. Seus estudos focam em tipologia junguiana, psicologia analítica e religiosidade.

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